DAS COMOVISÕES AFRO-RELIGIOSAS E A ENTIDADE JOSÉ PELINTRA POR FRANCISCO MIRANDA (Tatá nganga Umwami w'ubupfumu )
Falar sobre o ilustre personagem José Pelintra não é uma tarefa fácil. Mesmo aqueles com longo período de culto, tem dificuldade em denotar toda a magnitude de sua importância dentro das casas religiosas onde este saudoso malandro é louvado.
Na gênese de seu surgimento, encontramos um arquétipo expressivo totalmente diferente, ou mesmo modernizado quando comparado com o padrão atual.
Tanto o mestre ou exu José Pelintra mantêm uma característica que permeia sua origem e está presente até os dias atuais: maior proximidade com a parcela da sociedade menos favorecida. Essa aproximação não se manifesta apenas pelo cuidado, mas vem principalmente pelos gostos e preferências que o malandro teve em vida e mantém ainda em condição de espírito.
São inúmeras as versões e contextos históricos que moldaram os mistérios que compõem a vida de José Pelintra, mas o gosto pela noite, boemia, a inclinação em defender os menos favorecidos e a aproximação com o povo da rua ainda estão presentes no contexto espiritual do saudoso malandro.
De forma livre, igual à vida que teve, José Pelintra manifesta-se em inúmeros segmentos religiosos de cunho AFRO-AMERÍNDIO, tornando-se em muitas famílias não o único representante do reino da malandragem, mas certamente o representante mais importante.
Cabe a José Pelintra ser o grande mantenedor dessa linha de trabalho e dificilmente teremos em casas religiosas de matriz afro, onde há manifestação da linha de malandros, a ausência desse saudoso malandro.
Ainda que seja considerada a vastidão da propagação do seu culto, haja vista o enorme carinho e devoção que os fiéis carregam por José Pelintra, rastrear com precisão toda a sua trajetória de vida e origem do culto tornou-se menos importante, sendo sua atuação dentro e fora dos terreiros o fator de maior relevância.
Eu só tenho a agradecer a José Pelintra por tantos anos acompanhando minha trajetória dentro da religiosidade AFRO-AMERÍNDIA, e pelo seu comportamento como pai, conselheiro, amigo e irmão para com nossa comunidade religiosa.
Com muito orgulho, afirmo ser filho de Zé Pelintra. Não tenho outro adjetivo a não ser "PAI" para me dirigir a ele, já que tantas vezes só tive a ele para recorrer.